O peso de guardar: como a acumulação compulsiva afeta a vida das pessoas?
Dr. Claudio JerônimoPsiquiatra especialista em transtornos mentaisHoje vamos conhecer mais sobre o TOC, suas obsessões e, principalmente, as compulsões de acumulação, um transtorno que interfere profundamente na vida de quem sofre com ele.
O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) é uma condição de saúde mental caracterizada pela presença de obsessões e compulsões. As obsessões são pensamentos, imagens ou impulsos indesejados que surgem de forma repetitiva e persistente, gerando grande ansiedade ou desconforto. Já as compulsões são comportamentos ou atos mentais repetitivos que a pessoa sente que precisa realizar para aliviar essa ansiedade ou evitar que algo ruim aconteça.
Embora o TOC possa se manifestar de diferentes maneiras, como por meio de rituais de limpeza, checagem constante ou organização excessiva. Vamos focar em uma de suas manifestações menos comentadas, mas bastante impactante: as compulsões de acumulação.
O transtorno de acumulação compulsiva é um tema complexo e é abordado no livro Medos, Dúvidas e Mania: orientações para pessoas com transtorno obsessivo-compulsivo e seus familiares. A obra traz reflexões importantes e exemplos marcantes, como o de pessoas que não conseguem se desfazer nem mesmo de um simples papel de bala ou um palito de sorvete, objetos que começam esquecidos nos bolsos e acabam se acumulando em gavetas. Outras, por sua vez, sentem uma necessidade incontrolável de recolher objetos aparentemente sem importância que encontram pelo caminho, muitas vezes amparadas por pensamentos automáticos, como: “se eu não pegar, algo ruim pode acontecer” ou “se eu não guardar, meu filho pode ficar doente.” Essas situações são exemplos clássicos de como o transtorno se manifesta e afeta o comportamento cotidiano de quem sofre com a compulsão.
Além de guardar o que já possui, muitas pessoas com esse transtorno desenvolvem o hábito de recolher objetos encontrados na rua, como pedaços de madeira, tampas de garrafa, pregos, pedras ou papéis, acreditando que podem ter alguma utilidade ou sentindo-se obrigadas a pegá-los por causa de pensamentos automáticos e medos irracionais.
Colecionador ou acumulador: Qual é a diferença?
O livro também destaca a importância de diferenciar os rituais compulsivos de acumulação dos hobbies e práticas comuns de colecionadores. Muitas pessoas cultivam o hábito de colecionar objetos específicos, como selos, latas de cervejas importadas, canetas especiais, carrinhos de brinquedo ou miniaturas, sempre de maneira organizada, cuidadosa e com um propósito definido. Da mesma forma, é absolutamente natural guardar lembranças afetivas, como uma pétala de rosa seca, cartões de aniversário ou até mesmo um papel de bombom recebido de alguém especial. Essas atitudes fazem parte das nossas memórias e histórias pessoais, sem, necessariamente, indicarem qualquer problema.
A grande diferença entre os dois comportamentos está no impacto que cada um tem na vida da pessoa. Enquanto colecionadores mantém seus objetos em ordem e sabem o valor que atribuem a cada item, a pessoa que sofre de acumulação compulsiva perde o controle sobre o que guarda, sente-se incapaz de se desfazer de qualquer coisa e, frequentemente, acumula objetos sem critério, prejudicando a organização do espaço e a própria qualidade de vida.
O papel das obsessões no Transtorno de Acumulação
As obsessões podem se manifestar de várias formas, como medos exagerados ou irracionais, pensamentos ruins, imagens mentais desagradáveis, dúvidas excessivas ou impulsos indesejados. Essas obsessões acabam alimentando comportamentos compulsivos, como o de acumular, na tentativa de reduzir a ansiedade ou afastar o sofrimento que tais pensamentos causam.
A pessoa que sofre de transtorno de acumulação compulsiva sente uma necessidade forte de adquirir e guardar objetos, e experimenta grande angústia quando é forçada a se desfazer deles ou até mesmo quando apenas pensa nessa possibilidade. Com o tempo, o acúmulo compromete os espaços da casa, dificultando a organização e tornando o ambiente, muitas vezes, inabitável.
Além disso, a desorganização gerada por esse acúmulo pode interferir na capacidade de concentração, tomada de decisões e convívio social. Por isso, ao lidar com alguém que enfrenta esse transtorno, é essencial ter empatia, evitar julgamentos e oferecer apoio, sempre incentivando a busca por ajuda especializada.
Tratamento
Embora o transtorno de acumulação compulsiva não tenha uma cura definitiva, é possível alcançar avanços importantes com o tratamento adequado. A terapia cognitivo-comportamental, quando voltada especificamente para esse tipo de comportamento, é considerada a abordagem mais eficaz.
Em alguns casos, o uso de medicação, como antidepressivos, pode ser recomendado por um psiquiatra, especialmente quando há sintomas associados à ansiedade ou depressão. Com acompanhamento profissional e apoio familiar, é possível melhorar a organização, o desempenho nas atividades diárias e a qualidade de vida da pessoa afetada.
Se você ou alguém que você conhece está enfrentando dificuldades com o transtorno de acumulação compulsiva, não deixe de buscar apoio especializado. O Dr. Cláudio Jerônimo, psiquiatra com experiência no cuidado de pessoas com transtornos mentais, está pronto para oferecer o suporte necessário e orientar no caminho da recuperação!
Fonte:
Livro Medos, dúvidas e manias: orientações para pessoas com transtorno obsessivo-compulsivo e seus familiares/ Albina Torres – 3ª edição – Porto Alegre 2025.
Texto escrito por Adriana Moraes – Psicóloga especialista em Saúde Mental e Dependência Química
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INFORMAÇÕES DO AUTOR:
Dr. Claudio Jerônimo Psiquiatra especialista em transtornos mentaisFormado em Medicina pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, o Dr. Cláudio Jerônimo da Silva possui residência médica em Psiquiatria pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.
Registro CRM-SP nº 83201.