Qual o médico que cuida de dependente químico?

Dr. Claudio JerônimoPsiquiatra especialista em transtornos mentais

O psiquiatra é o médico especialista que cuida dos dependentes químicos. Antes de tudo, é importante compreender que o dependente químico possui um transtorno mental que pode ter sido desencadeado por uma série de fatores. Trata-se de uma doença caracterizada pelo vício no consumo de drogas, em que se desenvolve uma dependência do corpo e da mente por determinadas substâncias, ocasionando um distúrbio no organismo e no cérebro.

Basicamente, a dependência química acontece por conta da dopamina que as drogas liberam para o cérebro, gerando a sensação de prazer no usuário, que, por sua vez, passa a necessitar dessas substâncias na sua rotina. 

Graus de dependência

O estado de dependência não constitui um estado do tipo “tudo ou nada”: trata-se de um contínuo, de uma gradação entre um extremo e outro, entre a não dependência e a dependência. Mesmo o estado de dependência não constitui uma categoria homogênea. É mais adequado pensarmos em termos de “graus de dependência”.

É importante ressaltar que a dependência de substâncias é um fenômeno que se caracteriza por padrões diferenciados de consumo. Pacientes dependentes químicos podem apresentar diversos graus de consumo, desde um consumo que no momento não gera prejuízos evidentes, passando por níveis que afetam determinados contextos da vida do indivíduo, até chegar a padrões que prejudicam intensamente sua vida, o que podemos considerar um nível grave de dependência. Mesmo o paciente tratado e em determinado momento “abstinente” do uso de determinada substância ainda é dependente de uma substância específica naquele momento.

Muitas vezes o tratamento da dependência química exige a prescrição de medicamentos. O psiquiatra pode realizar um trabalho multidisciplinar em conjunto com outros profissionais, como os psicólogos, que também são essenciais nesse processo.

E, ao contrário do que se possa pensar, o dependente químico nem sempre consiste apenas no usuário de drogas ilícitas, como maconha, cocaína, crack, heroína e outras, mas pode se tratar da compulsão em cigarro, bebidas alcoólicas, remédios, como ansiolíticos, e quaisquer tipos de substâncias químicas que possam causar dependência.

Busca por ajuda

É difícil acontecer de o próprio dependente químico tomar a iniciativa de buscar ajuda profissional, mesmo que tenha alguma consciência sobre a sua situação, principalmente por conta do preconceito que ainda existe sobre os pacientes e a atuação do psiquiatra.

Então, muitas vezes, é necessário que algum parente ou amigo consiga convencer o dependente químico a passar em consulta com um especialista e, nesse momento, o apoio e incentivo constantes se tornam indispensáveis. 

Apesar da dificuldade, é preciso trazer o indivíduo para a realidade de que ele necessita de ajuda, evitando críticas, conflitos e sem tentar resolver a situação enquanto ele estiver sob o efeito de substâncias psicoativas.

Se você suspeita de que alguém do seu ciclo familiar ou de amigos esteja usando drogas, por ter se isolado repentinamente, se tornado agressivo, ou ainda porque passou a se relacionar com amizades duvidosas, vale se atentar aos seguintes sinais geralmente associados a aspectos comportamentais:

– Mudanças bruscas de humor e comportamento (agressividade, tristeza, introspecção, ansiedade, depressão);

– Companhias de pessoas suspeitas que não pertenciam ao seu ciclo social;

– Indícios no corpo (arranhões, ferimentos, hematomas, sangramentos, marcas de agulha);

– Mudanças no estilo e odor característico na roupa;

– Uso de itens estranhos (cachimbos, canudos, garrafas vazias, objetos perfurantes);

– Mudança nos hábitos alimentares (falta ou excesso de apetite);

– Semblante diferente (olhos vermelhos ou inchados, nariz irritado);

– Alterações no sono (insônia, sonambulismo, novos hábitos noturnos).

Tratamento para dependentes químicos

O tratamento da dependência química de boa qualidade é efetivo para reduzir ou interromper o consumo de substâncias psicoativas, melhora a saúde clínica dos usuários, prevenir danos, tais como infecções e superdosagens, bem como aumentar seu funcionamento social.

Ao reconhecer que existe a necessidade de iniciar um tratamento, é preciso buscar um diagnóstico preciso para uma intervenção mais adequada. Em casos avançados, a dependência química pode afetar outros aspectos da saúde do paciente, causando distúrbios físicos e mentais.

No tratamento, entra o processo de desintoxicação gradual e, às vezes, se faz necessária a prescrição de medicamentos, a fim de normalizar algumas funções do organismo e propiciar controle emocional. 

Geralmente, pacientes com um grau mais avançado de dependência não podem interromper o uso dessas substâncias de forma abrupta, por conta do risco das crises de abstinência que podem comprometer ainda mais a sua saúde. Portanto, o tipo de intervenção do médico que cuida de dependente químico varia de acordo com o quadro de cada paciente.

Em alguns casos, de acordo com o estado de saúde e comprometimento mental, a internação pode ser necessária, podendo acontecer de forma voluntária (aquela que se dá com o consentimento do paciente) ou involuntária, (aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro).

Essa última alternativa é adotada quando a situação do dependente representa um risco à sua própria integridade e para os outros do seu ciclo de convivência, como a família e amigos.

Fazer o acompanhamento psicológico também é de extrema importância para uma terapia integrada e multidisciplinar, com a intervenção dos psiquiatras, psicólogos e médicos clínicos.

Os usuários de drogas ficam desmotivados pela falta de força emocional para lutar contra a dependência. Então, todo esse processo deve contar com o apoio da família, o que ajuda o dependente químico a se engajar no tratamento, contribuindo para uma recuperação eficaz, evitando recaídas no futuro.

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INFORMAÇÕES DO AUTOR:

Dr. Claudio Jerônimo Psiquiatra especialista em transtornos mentais

Formado em Medicina pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, o Dr. Cláudio Jerônimo da Silva possui residência médica em Psiquiatria pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.
Registro CRM-SP nº 83201.