Como funciona a mente de um dependente químico?

Dr. Claudio JerônimoPsiquiatra especialista em transtornos mentais

Para compreender como funciona a mente de um dependente químico, é importante deixar de lado o viés da discriminação e também não generalizar. Cada indivíduo tem o seu histórico e motivações particulares, o que confere uma relação única com a sua dependência

E, atualmente, mesmo com o acesso fácil às informações pela internet, até os familiares passam a rejeitar o dependente por preconceito e falta de conhecimento sobre a sua condição. 

Afinal, a dependência química se trata de uma doença e, infelizmente, é uma realidade cada vez mais presente nas famílias. E, por mais difícil que seja, exige muita paciência, amor e compreensão principalmente das pessoas mais próximas, como amigos e familiares, que não devem maltratar ou marginalizar o dependente.

O primeiro passo se dá a partir do conhecimento sobre esse quadro, as formas de lidar e como ajudar no seu tratamento. E para saber como funciona a mente de um dependente químico, primeiro, é preciso entender as suas causas, ou os principais gatilhos, que o levam a consumir essas substâncias. 

Compreender esses fatores de ordem biológica, psicológica e social pode facilitar no planejamento de ações e estratégias para resolver o problema. Dentre as principais causas da dependência química, estão:

  • Aspectos sociais (forma de socialização, ambiente “favorável” em casa, influência das mídias, violência verbal e/ou física na escola ou universidade, etc.);
  • Forma de escape de uma realidade difícil (dor psicológica e/ou física);
  • Curiosidade;
  • Insegurança;
  • Insatisfação com a vida;
  • Sintomas depressivos;
  • Busca por prazer imediato;
  • Transtornos psiquiátricos;
  • Aspectos biológicos (hereditariedade ou genética).

Diversas causas podem estar envolvidas na vida de um dependente químico e, por isso, não é uma tarefa simples saber exatamente o que acontece na sua mente. Mas, sabendo dessas possibilidades, fica mais fácil buscar ajuda especializada, que seguirá com o melhor tratamento.

Afinal, como funciona a mente de um dependente químico?

Pelo fato da dependência química geralmente ser multifatorial, podendo se desenvolver em diversos contextos e por vários motivos, cada dependente possui as suas próprias características específicas. Entretanto, acontece que muitas drogas fazem efeito principalmente nos centros do cérebro relacionados ao prazer e à motivação.

Isso faz com que o indivíduo desenvolva uma dependência psicológica, tendo como alvo a busca incessante por sensações prazerosas. E, com o uso frequente das substâncias, o corpo acaba criando certa tolerância, o que reduz cada vez mais a sensibilidade aos seus efeitos.

Com o tempo, o uso das drogas já não se trata mais de uma decisão do dependente, mas por conta de fatores bioquímicos, essas substâncias passam a ser o principal combustível para a sua vida.

Em algum momento, eles passam a assumir determinados comportamentos que podem ser considerados comuns para a maioria dos casos, dentre eles:

  • Indiferença: dificilmente o dependente irá aceitar o conselho de outras pessoas e, dependendo do grau do transtorno, ele deixa de se importar com que os outros pensam a seu respeito, independente de quem seja. Esse é o momento em que muitos dos vínculos familiares e de amizade se perdem.
  • Inquietação: principalmente nos momentos em que ele não está sob o efeito das drogas, o dependente químico muitas vezes não consegue esconder a sua inquietação. Isso pode fazer com que ele aja de modo extremo para conseguir o acesso às substâncias, com atitudes que normalmente ele não tomaria, como furtar.
  • Irritabilidade: geralmente o dependente acredita que está sempre certo e os outros errados, fazendo com que frivolidades acabem se tornando motivo para brigas sérias, discussões e até agressões físicas. Esse é um dos aspectos mais difíceis de lidar pela família e pessoas ao redor. 

Alterações físicas, psicológicas e comportamentais

O uso de drogas desencadeia uma série de mudanças, que podem ser notadas no comportamento e em aspectos físicos característicos do dependente químico. Dentre as alterações físicas, estão:

  • Vermelhidão nos olhos;
  • Tremores frequentes;
  • Fala alterada ou lenta;
  • Mudanças repentinas de peso;
  • Pupilas dilatadas;
  • Nariz escorrendo;
  • Boca seca;
  • Ponta dos dedos amarelada;
  • Sobrancelhas ou outras regiões do rosto queimadas.

Da mesma forma, costumam surgir alterações psicológicas semelhantes a outras doenças psiquiátricas, como transtorno bipolar, depressão e esquizofrenia, como por exemplo:

  • Momentos inesperados de raiva;
  • Medo ou ansiedade sem motivo aparente;
  • Alterações bruscas na personalidade;
  • Desmotivação para realizar as atividades do dia a dia.

Geralmente, o dependente químico apresenta também mudanças no âmbito emocional e no seu comportamento, mudando de forma gradativa o seu estilo de vida e abrindo mão de diversas responsabilidades, relacionamentos e prazeres. Dentre essas alterações, estão:

  • Ausência nos seus compromissos profissionais e sociais;
  • Perda da produtividade no trabalho ou no rendimento escolar;
  • Desinteresse pela família e amigos (isolamento);
  • Alterações nos hábitos de sono;
  • Diminuição do apetite ou episódios de consumo exagerado;
  • Endividamento (pedir dinheiro emprestado com frequência);
  • Brigas em casa e no trabalho;
  • Atitudes irresponsáveis (inclusive que colocam a própria vida em risco).

Conhecendo os principais sinais e como funciona a mente de um dependente químico, fica mais fácil identificar se alguém da família ou do grupo de amigos precisa de ajuda especializada.

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INFORMAÇÕES DO AUTOR:

Dr. Claudio Jerônimo Psiquiatra especialista em transtornos mentais

Formado em Medicina pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, o Dr. Cláudio Jerônimo da Silva possui residência médica em Psiquiatria pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.
Registro CRM-SP nº 83201.