Bebês Reborn: Brinquedo, Terapia ou Sinal de Alerta?

Dr. Claudio JerônimoPsiquiatra especialista em transtornos mentais

 

Os bebês reborn, bonecos hiper-realistas que imitam recém-nascidos, voltaram a chamar atenção nas redes sociais nos últimos dias, especialmente por vídeos que mostram rotinas detalhadas de “cuidados” como se fossem filhos reais. Apesar de parecer apenas uma brincadeira ou hobby, a relação com esses bonecos levanta importantes questões sobre saúde mental.

O envolvimento é tão intenso que muitas pessoas dedicam horas aos cuidados com os reborns e não hesitam em investir quantias consideráveis na compra e manutenção desses bonecos.

Em alguns contextos específicos, os reborns podem ser utilizados com função terapêutica. Idosos com demência, por exemplo, podem se beneficiar do contato com o boneco como forma de estímulo emocional e cognitivo, como ferramenta simbólica de elaboração da perda. Nesse caso, o uso terapêutico deve ser sempre acompanhado por profissionais da saúde mental.

No entanto, é importante estar atento aos limites dessa prática. Quando o boneco passa a ser tratado como um substituto de vínculos humanos reais, com o imaginário funcionando como um refúgio constante e afastando a pessoa da realidade, isso pode ser um sinal de alerta.

O apego excessivo pode refletir questões emocionais mais profundas, como tentativas de preencher vazios afetivos, controlar situações emocionais ou reviver experiências maternas idealizadas. A fantasia tem seu valor simbólico e faz parte da vida psíquica saudável, mas não deve ocupar o lugar das conexões reais e concretas.

Sigmund Freud, ao analisar os mecanismos inconscientes que regem o comportamento humano, afirmava que “toda fantasia é a realização de um desejo”. Nesse sentido, a relação intensa com os bebês reborn pode representar, em certos casos, uma tentativa inconsciente de suprir carências emocionais, lidar com perdas não elaboradas ou satisfazer desejos reprimidos.

A diferenciação entre fantasia e realidade é essencial para a manutenção do equilíbrio emocional. Quando essa linha se torna tênue ou inexistente, podem surgir riscos como isolamento social, dificuldade de lidar com frustrações, idealização de relações afetivas e agravamento de quadros como ansiedade, depressão ou transtornos de personalidade.

O tema tem ganhado repercussão também no campo legislativo. A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) está avaliando o Projeto de Lei nº 5357/2025, apresentado pelo deputado Rodrigo Amorim (União), que propõe a criação de um programa de saúde mental voltado a pessoas que se identificam como mães ou pais de bebês reborn. A proposta reacende o debate sobre os limites entre o lúdico, o terapêutico e o patológico.

Buscar apoio psicológico é fundamental para compreender o que está por trás desse vínculo, acolher possíveis dores emocionais e construir caminhos mais saudáveis de afeto e conexão com a vida real.

Se precisar de ajuda, procure o Dr. Cláudio Jerônimo, psiquiatra especialista em dependência química e saúde mental.

Texto escrito por Adriana Moraes – Psicóloga especialista em Saúde Mental e Dependência Química

Fonte:
https://veja.abril.com.br/politica/projeto-de-lei-pode-viabilizar-programa-de-saude-mental-para-pessoas-que-se-consideram-pais-de-bebes-reborn/

 

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INFORMAÇÕES DO AUTOR:

Dr. Claudio Jerônimo Psiquiatra especialista em transtornos mentais

Formado em Medicina pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, o Dr. Cláudio Jerônimo da Silva possui residência médica em Psiquiatria pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.
Registro CRM-SP nº 83201.