Dependência Química: como tratar com um psiquiatra?

Cerca de 28 milhões pessoas possuem familiares que sofrem com a dependência química, de acordo com uma pesquisa feita pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). 

É cada vez mais comum a busca, voluntária ou compulsória, por tratamentos para essa doença, uma vez que ela prejudica não apenas a pessoa acometida, mas também todo o seu círculo familiar e de amizades.

O que é a dependência química?

A dependência química é um transtorno que ocorre no organismo por conta do uso de drogas. É uma doença que ocorre quando um usuário já não pode mais conviver sem determinadas substâncias, pois mente e corpo podem criar uma dependência delas para sobreviver.

Isso acontece porque essas drogas liberam dopamina para o cérebro, no núcleo chamado de accumbens. A substância, então, gera prazer para o indivíduo, de modo que o usuário desenvolve a necessidade de utilizar essas drogas em seu cotidiano.

Ocorre, ainda, o chamado down regulation, que é a diminuição da neurotransmissão dopaminérgica nas pessoas que usam drogas quando não estão fazendo uso dessas substâncias. Assim, é necessário que doses cada vez maiores sejam tomadas para causar o mesmo efeito. Esses sinais e sintomas são:

  • Compulsão pelo uso da droga; 
  • Sintomas de abstinência;
  • Necessidade de doses crescentes para atingir o mesmo efeito; 
  • Falta de controle sobre a quantidade do uso; 
  • Abandono de outras atividade e manutenção do uso, mesmo tendo prejuízos evidentes causados pela droga. 

De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), as substâncias causadoras de dependência são:

  • Álcool;
  • Tabaco;
  • Cocaína;
  • Derivados: como o crack e a pasta-base, maconha, alucinógenos, solventes e inalantes, a exemplo da cola de sapateiro e acetona, estimulantes como anfetaminas e cafeína, opióides, sedativos e hipnóticos (medicações como o diazepam). 

Obviamente, existem substâncias que são mais rapidamente nocivas para o organismo, mas qualquer tipo de droga pode causar a dependência em seus usuários. 

Essa teoria faz com que as pessoas que consumam bebidas alcoólicas ou que fumem também sejam vistas como dependentes químicas, sendo necessária a submissão a tratamentos para controlar o vício.

Também podem ser consideradas dependentes químicos os pacientes que têm dificuldades para cortar ou reduzir o uso de determinados tipos de medicamentos, como os ansiolíticos. 

São comuns os casos de pessoas com problemas de depressão e outras patologias da mente que necessitam do uso de medicamentos por um período, mas que acabam com dificuldades de abandonar a medicação.

Psiquiatria e a dependência química

Até poucos anos, o senso comum via a dependência química como algo que acometia apenas pessoas que viviam às margens da sociedade. No entanto, a psiquiatria provou, por meio de estudos e observação, que qualquer pessoa pode desenvolver esse problema, independentemente de classe ou posição social.

Estudos de anatomia e fisiologia humana provaram que o cérebro humano possui uma área relacionada com as sensações de prazer. É ela que faz com que tenhamos uma sensação positiva ao comer um alimento, em sentir calor após permanecer muito tempo no frio, ao fazer sexo, entre outros.

Essa área do cérebro, chamada de accumbens, no decorrer da evolução humana, fez com que nossos organismos desenvolvessem um sistema de recompensa. As drogas agem nesse sentido, ativando esse sistema e fazendo com que o usuário sinta-se bem ao utilizá-las.

Sendo assim, quando uma pessoa tem problemas psicológicos, como tendências depressivas, baixa autoestima, pouca confiança em si mesmo ou até mesmo problemas com familiares e a sociedade em que está inserida, pode encontrar no uso de drogas uma válvula de escape, algo que lhe faz sentir prazer.

O problema disso tudo é que as drogas pervertem o repertório de prazer, de modo que fazer sexo, comer, conversar, conviver com outras pessoas, ou qualquer outra fonte de felicidade, pode deixar de ser efetiva, fazendo com que o usuário precise usar substâncias ilícitas para se sentir bem e compensar esse vazio.

Para a psiquiatria, é importante ter o entendimento clínico do que causa a dependência química, para, conjuntamente a outras áreas da medicina e a profissionais da psicologia, seja possível oferecer um tratamento adequado e digno, visando reverter esse quadro nos usuários.

O tratamento de um dependente químico geralmente é feito por uma equipe multidisciplinar, na qual o psiquiatra tem um papel extremamente importante, pois pode buscar a origem do problema e compreender o que levou essa pessoa a entrar e permanecer no universo das drogas.

Consequência da dependência química 

A dependência química causa diversos prejuízos à vida do paciente em todas as esferas. Mário explica que para um dependente químico, usar a droga é o principal objetivo da pessoa, e todo o resto como família, estudos, trabalho e saúde ficam em segundo plano. 

Eles têm dificuldades em se firmar no emprego, concluir um curso, conviver em família ou até mesmo fazer planos para o futuro. Seus relacionamentos são conflituosos e há maior incidência de comportamento violento e envolvimento em situações de risco como dirigir intoxicado e fazer sexo sem proteção. 

Além disso, estão expostos a deterioração da saúde física e psíquica, promovidos pelas drogas. Os derivados de cocaína causam déficit cognitivo e lesão pulmonar, o álcool pode levar à cirrose e demência, o tabaco causa câncer, entre outras doenças.

Prevenção contra dependência química 

Segundo especialistas , a melhor forma de prevenção é não experimentar. Algumas drogas causam dependência muito rapidamente, como a cocaína e seus derivados, anfetaminas, tabaco e opióides. Para essas, a mera experimentação já é um comportamento de altíssimo risco. É importante que usuários de drogas fiquem alertas e procurem ajuda.

Doença tratável

Vale ressaltar que não existe cura para a dependência química, ou seja, há o controle da doença com tratamento. As alterações cerebrais causadas pela droga são, em grande parte, irreversíveis. 

O cérebro guarda uma espécie de memória da droga por toda a vida, por isso, mesmo dependentes químicos em tratamento, que já estão livres de qualquer droga há várias décadas, irão voltar ao mesmo padrão de consumo excessivo da substância caso voltem a experimentá-la.

Tratamento

O tratamento é multidisciplinar, envolvendo médico psiquiatra, psicólogo e outros profissionais dependendo de cada caso. O uso de medicação é de grande utilidade pois ajuda a conter a vontade de usar e a diminuir os sintomas de abstinência.

A internação, tanto voluntária quanto compulsória, é um instrumento útil em casos selecionados, assim como os grupos de mútua ajuda como o Alcoólicos Anônimos e o Narcóticos Anônimos.

O apoio familiar é fundamental no processo de tratamento e que a família precisa se envolver e incentivar o doente na busca pela abstinência, entendendo que esse caminho é tortuoso, e que as recaídas são comuns nesse processo. 

Os familiares precisam entender que a dependência química é uma doença e não um desvio moral. Ao mesmo tempo, junto a esse apoio, precisa haver uma postura firme dos familiares para não permitir que o paciente os manipule.

É um equilíbrio difícil de ser atingido e um desafio, principalmente para os pais ou cônjuge. Grupos de mútua ajuda próprios para a família, auxiliam na trajetória contra a dependência química. 

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Artigo escrito pelo Dr. Claudio Jerônimo

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