III LENAD revela os riscos das Apostas Online

Dr. Claudio JerônimoPsiquiatra especialista em transtornos mentais

Com o avanço da tecnologia e a popularização dos jogos online e das apostas esportivas, o acesso a essas plataformas tornou-se fácil e imediato. Essa facilidade tem contribuído consideravelmente para o aumento dos casos de dependência em jogos, tornando-se uma preocupação crescente no campo da saúde mental, como foi destacado na pesquisa do III LENAD.

O que muitas vezes começa como uma diversão inocente pode se transformar em uma dependência devastadora. O jogo recreativo pode ser uma forma saudável de entretenimento, na qual o indivíduo participa de maneira controlada e consciente. No entanto, quando esse comportamento se torna repetitivo e incontrolável, pode evoluir para o jogo patológico.

A principal diferença entre o jogo recreativo e o jogo patológico está na perda de controle e nas consequências negativas que surgem da prática excessiva. No jogo recreativo, o jogador joga por lazer, sem que isso interfira em suas responsabilidades ou relacionamentos. Já no jogo patológico, há uma busca incessante por recompensas imediatas, com o jogador priorizando o prazer momentâneo e deixando de lado suas obrigações, vínculos sociais e bem-estar.

Essa condição pode levar a prejuízos financeiros, afetar a saúde mental e causar isolamento social, configurando um importante problema de saúde pública.

Impacto dos jogos de aposta na população brasileira

De acordo com o III Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD), cerca de 10 milhões de brasileiros já apresentam algum grau de dependência em jogos. O estudo foi conduzido pela psicóloga e pesquisadora Dra. Clarice Sandi Madruga, com financiamento da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (SENAD), sob a coordenação do psiquiatra Dr. Ronaldo Laranjeira, em parceria com outras instituições.A pesquisa analisou a frequência e o impacto dos jogos de aposta na população brasileira. Participaram 4.860 pessoas, sendo 876 adolescentes entre 14 e 18 anos e 3.984 adultos de ambos os sexos. Todos responderam ao Índice de Gravidade do Jogo Problemático (PGSI, na sigla em inglês).

Entre os adolescentes, 84,1% relataram jogar online, e mais da metade já apresenta sinais de envolvimento problemático, evidenciando o impacto crescente dos jogos de apostas no país. Embora a legislação proíba apostas para menores de 18 anos, o levantamento revelou um dado alarmante: 4% dos apostadores no Brasil são adolescentes.  O estudo destaca que as Bets já são o segundo tipo de aposta mais comum no Brasil, atrás apenas das loterias.

Esse cenário aumenta o risco de prejuízos emocionais, endividamento precoce e o desenvolvimento de comportamentos compulsivos ainda na juventude. Apesar de representarem uma parcela menor da população, os jovens que apostam concentram uma das mais altas proporções de risco para o desenvolvimento do transtorno do jogo.

Na Figura 5 do Caderno Temático de jogos de aposta na população brasileira, o estudo apresenta as variações no comportamento de apostas entre as cinco regiões do Brasil. A maior concentração de jogadores foi observada na região Sul, onde 20,4% da população declarou praticar apostas. Em seguida, aparecem o Centro-Oeste (18,7%), o Sudeste (17,6%) e o Norte (16,5%). O menor índice foi registrado no Nordeste, com 16,3%.

 



O estágio da Pré-contemplação
Muitos jogadores não reconhecem o impacto negativo que o comportamento excessivo em jogos online tem em suas vidas. Estão no estágio da pré-contemplação, ou seja, não percebem que sua compulsão por jogos está prejudicando suas finanças, relacionamentos e saúde mental.

Frequentemente, gastam dinheiro que deveria ser destinado a contas importantes, como aluguel ou reservas de emergência, acreditando que a próxima aposta trará um grande ganho capaz de resolver tudo. Essa negação é uma característica comum em quem está desenvolvendo a dependência.

Com o tempo, o uso repetido de jogos online pode causar danos neurobiológicos e afetar diversas áreas da vida, como alterações no controle dos impulsos, prejuízos na concentração e memória, isolamento social, queda no desempenho escolar ou profissional, distúrbios do sono e aumento dos níveis de ansiedade e depressão. A dependência de jogos não apenas prejudica o funcionamento do cérebro, mas também compromete as relações sociais e familiares, além da saúde mental. O indivíduo se vê isolado, preso a um ciclo de sofrimento contínuo, no qual a sensação de prazer diminui, mas a necessidade de continuar jogando persiste, levando a uma espiral de dor e perdas.

Tratamento
O diagnóstico precoce e o apoio psicológico são passos essenciais para interromper o ciclo vicioso do jogo patológico e garantir a saúde e o bem-estar dos afetados. Estratégias de prevenção e tratamento eficazes, como a terapia cognitivo-comportamental, são fundamentais para ajudar os indivíduos a superarem a compulsão.

Se você ou alguém próximo está enfrentando essa situação, não deixe de buscar ajuda.

O psiquiatra Dr. Cláudio Jerônimo, membro do Comitê Científico do LENAD e colaborador no estudo, está à disposição para oferecer o apoio necessário.

 

Fonte:
Terceiro Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad): Caderno temático de jogos de aposta na população brasileira – Resultados 2023. São Paulo. Unifesp. 2025.
Baixe a revista: https://lenad.uniad.org.br/resultados/relatorio-lenad-iii/

 

Texto escrito por Adriana Moraes – Psicóloga especialista em Saúde Mental e Dependência Química

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INFORMAÇÕES DO AUTOR:

Dr. Claudio Jerônimo Psiquiatra especialista em transtornos mentais

Formado em Medicina pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, o Dr. Cláudio Jerônimo da Silva possui residência médica em Psiquiatria pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.
Registro CRM-SP nº 83201.